domingo, 18 de outubro de 2009

Um Test-Drive insólito!

Eu disse num post anterior que uso cadeira de rodas motorizada desde os 8 anos de idade. Pois bem. Nesses 32 anos de "habilitação" tive umas quatro cadeiras eletrônicas diferentes. Sempre achei bobagem manter uma cadeira dessas de reserva. Tentei fazer isso uma vez e a "regra dois" acabou estragando por falta de uso. Portanto, quando dou a sorte de ainda estar com uma cadeira pifando, antes mesmo de haver perda total, trato de providenciar uma substituta.

Cada cadeira tem uma história interessante. Mas hoje vou me deter numa certa passagem da Via Crúcis que encarei até conseguir comprar a Isabel (que é o nome da atual e que me acompanha há nove anos).

Estava eu, no final do ano de 1999, indo de Seca a Meca para catar uma cadeira de rodas nova. Algumas poucas lojas já tinham o produto exposto no próprio estabelecimento, outras raras aceitavam encomendas e outras muitas nem tchuf para a coisa. Na ocasião, encontrei uma única loja de material hospitalar, aqui no Rio, que expunha uns três modelos diferentes. Perguntei se eu poderia fazer um "test-drive", lógico, e o vendedor disse gentilmente que sim. Mas ele precisava dar uma checada antes, para ver se o modelo por que me interessei estava ok.

Foi exatamente aí que começou a minha desgraça e talvez o maior mico que eu já tenha pagado em toda minha vida cadeirante (como se eu tivesse tido outra!). O amável rapaz se sentou na cadeira e começou a (tentar) se deslocar sobre ela no corredor central, único e espremido da loja. Ele não conseguiu andar sequer meio metro em linha reta. Estava dirigindo muito mal, apesar de ter sido prudente e não ter dado encontrão em nada nem em ninguém.

Imediatamente comecei a pentelhar a criatura. Disse que ele era barbeiro, que dirigir essas cadeiras era coisa para profissa, que talento não se acha em qualquer esquina, que eu poderia ser instrutora dele, blá, blá, blá. Com um sorriso meio amarelo e sempre cortês, o rapaz saiu da cadeira e deixou que a pentelha aqui a guiasse, por insistência minha, óbvio. Sentei na cadeira e meti a mão no comando, toda confiante. Nossa, que des-gra-ça! Ou o raio da cadeira estava com defeito de fábrica ou era mal projetada mesmo. O fato é que eu saí dirigindo muito mais horrorosamente do que o rapaz. Derrubei uns três pares de muletas, umas duas cadeiras de rodas e pelo menos uma cadeira higiênica. Por milagre e sorte de todos não atropelei nem machuquei ninguém. Mas fiz uma cena bizarra, como se tivesse recebido uma pombajira sendo executada em cadeira elétrica. Um desastre! E o mais impressionante: ninguém riu. Pelo contrário, o vendedor veio educadamente me resgatar do canto sem saída onde me entalei e disse que suspeitava que a cadeira estivesse com defeito. "Eu tentei avisar, mas a senhora estava tão falante...". Pedi mil desculpas até para o gerente da loja. Só que eu tive que sair empurrada de lá, literalmente.

Moral da história: todo metido-a-engraçadinho-que-adora-aparecer-tirando-onda-com-a-cara-dos-outros tem seu dia de castigo. Portanto, fiquem ligados: não existe exclusão para cadeirantes nessas ciladas!

Um comentário: