Este post tem a finalidade de procurar esclarecer (ou confundir ainda mais... sabe-se lá!?) a impressão que a leitora Júlia e talvez outros leitores tenham tido sobre mim, por conta do que escrevi no texto intitulado "Notícia bombástica" (logo abaixo deste que agora lanço aqui).
Eu fiz uma brincadeira ácida sobre a falta de atenção das pessoas. Desculpem se pareci revoltada/magoada/inconformada com minha situação. Não tive a intenção de passar isso, apesar de poder tê-lo feito sem me dar conta. Inclusive, eu e essa amiga que pagou o tal mico achamos graça do ocorrido até hoje. Meu humor rascante, por vezes meio negro, é nato e muito provavelmente não tem necessariamente a ver com minha condição física... será? Bem, vejamos:
Concordo com a leitora Júlia, quando ela diz que é preciso paciência, tolerância e amor para fazer as pessoas vencerem o preconceito delas conosco e também nosso "autopreconceito", digamos assim. Mas a gente não pode negar que o preconceito existe. E não acho justo deixar de encarar a situação com realismo. A cadeira de rodas ainda não é meramente um acessório a mais para algumas pessoas que nos veem sentados nela. Nós, humanos, somos vaidosos e isso talvez nem seja propriamente um defeito, mas é, antes de tudo, uma inerência da nossa espécie. Eu, particularmente, já me interessei por alguns homens que disseram diretamente a mim ou mandaram recado por terceiros que sentiam muito, mas não ficariam com uma mulher na minha condição física. Outros homens corresponderam ao meu interesse e aí namoramos/ficamos etc. Ainda houve os que foram a fim de mim e que eu os dispensei (poderouuuusa!).
O que eu queria que ficasse claro, meus leitores, é que eu sou totalmente a favor da luta sem revolta contra o preconceito e contra a falta de acessibilidade. Tudo bem que em algumas situações precisamos endurecer, "pero sin perder la ternura!!!". Eu nunca fui andante. Portanto, não tive a experiência de saber como eu via os cadeirantes antes de eu estar na minha condição. Agora, o que eu me sinto na obrigação de fazer é nunca perder a justa medida da realidade: ou seja, tenho sempre em mente que existiu, existe e existirá em nosso meio pessoas que nos aceitam completamente, aquelas que têm um preconceito velado ou parcial (tipo: podemos ser amigos, mas nunca namorados) e aquelas que assumem seu preconceito abertamente (o que é raro).
Faço da premissa que expus a base da minha conduta e da minha postura diante da vida. Se pecarmos por falta, no sentido de minimizarmos demais o preconceito (de uma forma bem geral), perigamos nos iludir ou deixar que também se iludam os que são alvos dele e aí permitir que todos se exponham a situações constrangedoras e dolorosas. Por outro lado, o preconceito não pode e não deve ser supervalorizado, uma vez que a aceitação É o caminho para um mundo melhor (embora esta última afirmação possa parecer piegas ou meio clichê). O segredo da superação, para mim, está no esforço para conseguir manter o equilíbrio e o bom senso dentro dessa visão ampla e imparcial da verdade.