segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Levanta-te e anda!

Este blog estava custando a decolar. Mas, graças ao empurrãozinho do Alessandro Fernandes, dono do Blog do Cadeirante, surge meu segundo post. Ele, que é mineiro, quer saber, por mim, a quantas anda o Rio de Janeiro para um cadeirante. A resposta vai recheada com um “causo” interessante.

Nasci com problema locomotor. Tenho uma distrofia muscular até hoje não muito bem diagnosticada e que é responsável pela perda de cerca de 80% da minha força muscular. De início eu usava carrinho para bebês. Depois que cresci mais um pouquinho, ainda andava sobre esses mesmos carrinhos, que passaram por algumas adaptações improvisadas e que funcionavam bem. Aos oito anos de idade comecei a utilizar cadeira de rodas motorizada. Nossa, foi uma festa! Mas essa passagem é assunto para outro dia.

Voltando à pergunta do Alessandro, vamos ao assunto em si. A situação de um cadeirante no Rio de Janeiro mudou deveras. Para quem está nessa vida sobre rodas há pouco tempo, ou seja, há menos de 10 ou 15 anos, talvez não faça ideia de como era trabalhoso se locomover nesta cidade. E as barreiras não eram só arquitetônicas, não. E é aí que entra o “causo”.

Eu contava uns seis ou sete anos de idade quando resolvemos ir a um cinema bacana daqui de Campo Grande, bairro onde moro. Ele se chamava Palácio de Campo Grande e tinha poltronas estofadas, de couro vermelho, e ar-condicionado. Um luxo! Havia uma escadaria na entrada (lógico, isso era elementar!) e uma roleta logo em seguida. Meus pais compraram as entradas e meu pai me levou no colo. Ao chegar na roleta, minha mãe entregou os ingressos ao roleteiro, mas o indivíduo travou a gente. Disse que a menina (eu, no caso) tinha que passar pela roleta an-dan-do. Do contrário, nada de ver o filme. E não adiantou explicar meu problema, porque o camarada estava irredutível. Minha mãe, evidentemente, rodou a baiana. Então, muito pau da vida, o funcionário acabou sendo obrigado a dar uma simples rodadinha a mais na bendita roleta e nos deixar entrar. O caso foi levado à direção do cinema, que depois fez contato conosco para pedir as devidas desculpas. Só que o mico já estava pago.

Uns seis anos se passaram e lembro da minha euforia ao visitar o Barra Shopping pela primeira vez. Parecia que o mundo tinha dado um passo de Gulliver. Inaugurado em 1981, o shopping tinha estacionamento, rampa, elevadores, calçadas rebaixadas e entrada facilitada no cinema, tudo para cadeirantes. Fora o aeroporto internacional do Rio, nenhum outro lugar que eu conhecesse na cidade estava assim, tão preparado para receber pessoas em condição semelhante à minha. Portanto, fiquei com a impressão de que o Barra Shopping foi um dos precursores da acessibilidade e da adaptação para deficientes físicos no Rio.

Hoje, raros são os grandes estabelecimentos comerciais, especialmente os shoppings, que não têm essas facilidades. Nunca mais fui barrada no cinema por uma dessas figuras com síndrome de Jesus Cristo para Lázaro: “Levanta-te e anda!”. Percebo que as pessoas estão mais acostumadas com a presença e a frequência dos cadeirantes nos lugares. Concordo que ainda há muito a ser feito e que toda barreira física ou humana deve ser denunciada. Contudo, nos tempos de outrora era bem mais dureza zanzar por aí. Havia pouquíssimos deficientes circulando pela rua. E tal qual a história do Tostines ou do ovo e da galinha, pergunto: será que a situação vem melhorando porque há mais cadeirantes nas ruas ou é justamente por haver acesso melhor que os cadeirantes estão saindo mais? That's the question!

3 comentários:

  1. Oi Cláudia! Parabéns pela "ativação" do blog, fico feliz em ter contribuído. Realmente quem é cadeirante há pouco tempo não faz idéia do que era sair na rua na década de oitenta. Se hoje já tem um monte de obstáculo, imagine naquela época. E quanto à sua "question", acho que os cadeirantes é que saem mais por ter mais adaptação, e menos preconceito. Mas ainda tem muita gente agarrado dentro de casa...

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  2. Oi Cláudia o mundo é mínimo, conheço esta figurinha acima e uma outrra figura que tá sempre colocando fotos com vc no Orkut.Dona Carla Diele.Sou vet. tb me formei junto com a Carla,figura.Tb tenho um blog,quem não tem,né?O Gilmar Mendes deu nosso diploma, agora aguente as consequências.Vai lá no nosso blog depois.Beijos e bem vindo ao mundo dos blogueiros.
    www.zerohora.com/sembarreiras

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  3. Oii Carla Diele falando... Que issoo Tânia???? você por aqui? Fui citada! u-huuu Quem não tem um blog? EU!!! mas pelo visto está na hora de fazer um né...
    vou visitar seu blog!
    bjooo

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